domingo, 27 de março de 2022

Diário de uma Avó e de um Neto Confinados em Casa, Alice Vieira e Nélson Mateus



Sinopse:

    «2020 foi um ano estranho para todos. Nunca passámos tanto tempo em casa, nunca passámos tanto tempo sem ver aqueles que são importantes para nós. E quando a necessidade apertou, foram precisas novas, e velhas, formas de comunicação: regressou a conversa à janela, foi-se embora o abraço, chegaram os Zooms.
    Mas, onde ficam outras gerações nestes tempos incertos?
    Como faz uma avó que nunca aprendeu a mandar SMS ou um avô cujo telemóvel não tem câmara?
  Mais do que nunca, as gerações mais velhas têm-se visto isoladas, mas tal não devia ser, especialmente considerando a tecnologia que temos hoje a nosso dispor. E é aí que entram Alice Vieira e Nélson Mateus, Avó e Neto adotados, uma ponte entre gerações que ensina como a alma está algures entre a vivacidade dos jovens e as memórias dos mais velhos, e que podemos criar algo de mágico ao juntar os dois.»


Opinião:

    Alice Vieira não é uma autora estranha para mim. Aliás, foi através dela que cresci e que descobri o gosto pela leitura e pela escrita. Cada livro que saía da saga "Cheiro a..." era adquirido pela minha mãe e devorado por mim. Também fui diversas vezes à Feira do Livro de propósito porque sabia que ela estaria lá a dar uma palestra ou fazer uma sessão de autógrafos. 
    Nélson Mateus desconhecia por completo, mas devo dizer que vejo traços da sua "avó" - como a trata, apesar de não serem avó-neto de sangue - na escrita, pelo que decerto a tem como inspiração. 
    Este livro, com a primeira edição datada de agosto de 2021, ensinou-me muito sobre a história de Portugal:
    1º) Porque ainda não era nascida nem planeada;
    2º) Porque houve assuntos que nunca foram abordados nas derradeiras aulas de História.
    Aborda diversos temas como o festival da canção, a morte de José Dias Coelho, o direito ao voto das mulheres, o 25 de abril, a censura da época que era uma dor de cabeça para os jornalistas, o próprio do confinamento, Eunice Muñoz e a sua carreira, entre outras figuras ilustres portuguesas e outros acontecimentos igualmente marcantes. 
    Achei que não iria gostar da forma como estava estruturado: em forma de diário, onde existem entradas do "neto" e entradas da "avó", com ilustrações simples mas bonitas referentes aos assuntos. Mas confesso que aos poucos fui começando a ganhar-lhe gosto porque, por um lado, vemos a perspetiva da década de 70 e da década de 40, e por outro vemos em como as opiniões e vivências diferem, atribuindo uma riqueza enorme a este livro pela quantidade de informação detalhe a que o leitor vai tendo acesso.
    É um livro acessível a todos: aos mais novos porque, como eu, vão conhecer mais a história do próprio país e as dificuldades de, por exemplo, não ter acesso a um telemóvel; e aos mais velhos porque vão puder relembrar e até dar o seu cunho sobre determinadas situações que também eles viveram.  

Frases mais bonitas:

«A culpa disto tudo é do Benjamin Franklin, que em 1784 achava que gastava muitas velas. Então vai de andar com o relógio com horas para a frente e horas para trás, para o dia ter mais luz solar e assim poupar dinheiro nas velas que comprava
»

«Vivemos numa sociedade envelhecida, hipócrita, em que a maioria das pessoas só pensa em si própria.»

«Isto de ser velho não deixa de ser um paradoxo. Ninguém quer ser velho, mas todos querem chegar a velhos. O tempo passa a correr. Há uns anos, grande parte das famílias não tinha telefone fixo em casa. Hoje, os telemóveis evoluíram tanto, que dão para fazer tudo e mais alguma coisa, inclusive fazer chamadas... E ainda temos a Internet. Cada vez estamos em contacto com mais pessoas e, ironia da atualidade, cada vez estamos mais sozinhos. Os mais novos têm muito para aprender com os mais velhos. Mas os mais velhos também podem aprender muito com os mais novos.»
                                                 
                                                                          ♡
   
Avaliação global: ☆☆☆☆
Data de começo: 20 de março de 2022
Data de término: 26 de março de 2022 

quinta-feira, 24 de março de 2022

Mulherzinhas, Louisa May Alcott


Sinopse:

    «As irmãs Meg, Jo, Beth e Amy conhecem algumas dificuldades depois da partida do seu pai para a guerra e dos problemas económicos que a família enfrenta. Mas o espírito lutador e de união que reinam naquele lar ajudam-nas a seguir em frente. Quer em casa quer nas relações com os amigos e vizinhos, elas conseguem surpreender e continuar e ser fiéis aos seus sonhos, vivendo cada dia com esperança e boa-disposição. Uma história em que o amor e a coragem se revelam mais fortes do que todas as dificuldades que estas quatro raparigas, juntamente com a sua mãe, têm de enfrentar.»

Opinião:

    Louisa May Alcott tem uma escrita que pessoalmente adoro: cheia de detalhe. Para muitos pode ser um tanto cansativa mas para mim é através das longas descrições que dou asas à minha imaginação e embarco em mais uma leitura. Confesso que esta narrativa surpreendeu e o final deixou-me a desejar ter o exemplar que dá continuidade à história para continuar a acompanhar esta família tão interessante.
    O livro é dividido em 23 capítulos que relatam a história das irmãs March: Margareth (Meg), a filha mais velha do casal e a mais obediente; Josephine (Jo), uma típica "maria-rapaz", com uma personalidade muito forte e talento imenso para a escrita; Elizabeth (Beth), a sombra de Jo, como a segunda gosta de chamar, dotada para o piano e para a música, sendo a mais tímida das 4; e por fim Amy, a mais nova de todas e por sinal, a mais vaidosa.
    Ao longo da história vamos percebendo como a ida de Mr.March para a guerra afetou cada uma delas e em como as fez crescer, cada uma à sua maneira. Acompanhamos diversos episódios que demonstram as suas dificuldades em trabalhar em conjunto e manter a harmonia, tal como uma família deve ter. 

    Theodore Laurence (Laurie) e James Laurence (Mr. Laurence, avô de Laurie) desempenham papéis importantes no crescimento das raparigas. Laurie, foi tornando-se família, um verdadeiro confidente de todas as irmãs March e especial compincha de Jo, por quem tinha muita estima. Teve o papel de irmão mais velho quando precisavam de conselhos e era o animador da casa quando tudo parecia correr mal. Já Mr. Laurence envergou, na minha humilde opinião, o ditado de que "não se deve julgar um livro pela sua capa". Aparentava ser um velho sisudo e mal disposto, com cara de que "toda a gente lhe deve mas ninguém lhe paga" mas aos poucos vamos percebendo que Mr. Laurence é bem mais do que isso, e tal como o neto começa a derreter-se aos encantos das meninas March, tendo especial carinho por Beth. 
    Surgem alguns ensinamentos com esta história: de que a família é o mais importante que podemos ter neste mundo, que a riqueza não é tudo e que é importante ajudar os outros e marcar a diferença mesmo que o que ofereçamos seja pouco.
    Numa nota geral, derreti-me com esta leitura. Foi mais enriquecedora e deu-me mais ensinamentos do que alguma vez acharia que um livro me pudesse dar. Sem dúvida que recomendo a todos que se debrucem sobre esta obra da literatura. É um pedaço lindíssimo da escrita de Alcott, que desejo voltar a ler.

Frases mais bonitas:

"Não podemos fazer muito mas podemos fazer os nossos sacrifícios, é importante que os façamos com boa vontade" 

"Não tenho medo de tempestades, pois elas me ensinam a navegar"

"Algumas pessoas pareciam ter toda a luz do sol; outras, toda a sombra"

Avaliação global: ☆☆☆☆
Data de começo: 
04 de março de 2022
Data de término: 20 de março de 2022